quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O que pensa a Psicologia sobre a Mídia da Beleza




"Vivemos numa época dominada pelo medo do colesterol e pelo culto às vitaminas, com uma dissolução crescente dos rituais que acompanham o ato alimentar. O almoço é um pedaço de pizza, em pé, num balcão qualquer. Assim, é importante pensar que tais mudanças contemporâneas no comer enquanto um ato social e psicológico, entre outros.
Por isso, afirmamos que não se trata de reduzir o sujeito a um registro psíquico ou social - ambos empobreceriam nossa compreensão. Acreditamos em buscar um "saber" que determinado grupo possui, utiliza e que norteia a relação que este tem com o seu corpo. Uma de nossas entrevistadas nos disse: "consumo é igual gula...você incorpora sem necessidade". Neste sentido, talvez os discursos sobre o corpo aqui trazidos, possam ser entendidos como a melhor metáfora da nossa sociedade. Uma sociedade obesa que, consumindo em excesso, está permanentemente insatisfeita."

"A cultura contemporânea valoriza tanto a magreza, legitimada principalmente pelo discurso da biomedicina, que transforma a gordura em um símbolo de falência moral, com sérias conseqüências para a subjetvidade dos que não se adaptam a esse ideal de corpo. Para muitos desses, a norma que os atira ao gueto de uma repulsa geral torna-se um peso, na alma, um refluxo sobre si mesmo de um corpo recusado. O reflexo de um sucesso ou fracasso pessoal. Com o auxílio do cinema e de todo o aparato da telecomunicação toda uma pedagogia de massa é veiculada: uma soberania sobre si, o indivíduo pode como nunca controlar seu corpo e provar sua vontade íntima, sua determinação, seu valor.
A imagem na obesidade traz conseqüências e sofrimento, afeta toda a relação do sujeito com seu corpo, mas não fiquemos cegos só pelo aparente, é o corpo pulsional, corpo de gozo, que ocupa, primariamente, toda a cena.
É preciso que esse sujeito lide de outro modo com sua falta fundamental, e por outro lado, que se desfaça esse nó de gozo, esse modo de gozar inflexível, exigente, voraz. O comer compulsivo está do lado da pulsão de morte, refere-se, por um lado, ao horror de um prazer por ele mesmo ignorado tanto quanto à atividade do erotismo oral, gozo oral. Por outro lado, a dieta apontaria para uma tentativa de quantificação, pois se está sempre contando e somando as calorias, pesando as gramas da dieta, os quilos a mais ou a menos. Isso permitiria um ciframento do gozo, portanto algum controle dele.
Assim o corpo, e sua imagem em especial, ocupam um lugar central na vida do homem contemporâneo, na relação com o mundo e com seus pares. A subjetividade contemporânea, como formulou Medeiros, sendo "descompromissada, desresponsabilizada, alienada, esvaziada de seus afetos e valores, só lhe teria restado sua aparência. Já não mais seria a força-de-trabalho do sujeito e sim sua estética que se prestaria à criação de mais-valia" (2005, p. 21).
O discurso do corpo fala das relações internas à sociedade e também nele vai se expressar a busca da felicidade plena. Palco privilegiado dos paradoxos e dos conflitos, o corpo que busca a sua singularidade é o mesmo que tenta negar a diferença e a alteridade."



"ESTE É UM MUNDO PARA HOMENS MAGROS. QUANDO PERDI PESO ERA UM HOMEM POPULAR E FAZIA EXERCÍCIOS" (MICHAEL HEBRANKO, CONSIDERADO O HOMEM MAIS PESADO DO MUNDO)

Andrade, A., & Bosi, M. L. M. (2003). Mídia e subjetividade: Impacto no comportamento alimentar feminino. Revista de Nutrição, 16(1). Recuperado em: 15 set. 2003: http://www.periodicoscapes.org.
Amorim, L., & Sant'Ana, M. M. (1999). A compulsão de comer. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 1 (2), 21-29. 


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